sábado, 29 de maio de 2010

Minha mala... Um fim?

Quando procuramos ajuda estamos em busca de um fim. Um fim que termine com o que está me incomodando, um fim a alguém que habita meu coração, um fim a uma lembrança, a um sentimento e por aí vai.
Cada um de nós, com sua respectiva história: família de origem, crescimento, escola, amigos, amores, sexo, etc. trazem consigo certa bagagem, uma mala completamente distinta de todas as outras.
E lá meu vou, lanço-me na vida com minha malinha.
E me vou, faceiro, cheio de expectativas me achando o cara porque eu tenho minha mala. Ela é minha e dela me apodero como uma verdade absoluta. Lembre: nela estão à história de cada um de nós, com todas as impressões, percepções e sentimentos das pessoas e da vida. E me sinto munido das ferramentas necessárias para construir minha vida.
Vou segura achando que tenho as ferramentas necessárias para viver a vida.
Mas, um dia percebi que minha mala não tinha tudo que necessitava e foi exatamente naquele momento, e já faz tempo, em que me vi só e sem saber o que fazer e como reagir. Pensei: Vida, o que é isto? Por quê? Crise! Como assim? Fiz tudo como me disseram e agora isto? Como? Esta é a crise! A falta de ferramentas, a constatação de que, ao contrário do que pensava, eu não tenho tudo de que necessito para viver a vida.
Vida, que queres de mim? Fiz tudo certinho, me lancei na vida bonita, como manda o figurino, o que aconteceu?
Mas, o tombo é inevitável e a queda faz com que percebamos que em alguns momentos da vida estaremos sós. A mala não é tudo e não tem tudo que gostaríamos de encontrar lá dentro, principalmente algumas respostas.
Naquele momento minha mala espatifou-se no chão e na queda percebi que ela era muito menor do que pensava, aliás, bem pequena até. Puxa, quando me atirei na vida achava ela enorme ou era meu ego que eu estava vendo. Que egão!
Quando minha mala caiu no chão ela distanciou-se um pouco de mim, saiu de minhas mãos, daí pude percebê-la melhor. Que estranho, até parece outra mala. Na queda também pude perceber como ela estava desorganizada por dentro e como havia coisas lá dentro que eu desconhecia. Meu Deus, o que é isso tudo? Quanta coisa tem aí dentro!Eu não sou eu!
Humildemente, mas também sem muita alternativa, me abaixo, junto minhas coisinhas e as coloco dentro daquela mala pequena; esta é minha bagagem para a vida. E me vou como peregrino quase despido para outro dia, outro momento, outras pessoas. E vem a insegurança, a solidão. E como desejo dar fim a esses sentimentos; aquele fim que falávamos no início.
Na vida me lanço, mas com outra postura. Antes estava ereto, certo, convicto e com a sensação de ter a vida em minhas mãos. Agora caminho de forma mais lenta, corpo mais curvado, olhar mais reservado e agarrado a minha mala como se fosse meu último suspiro. Agora parece ser um eguinho.
Egão x eguinho, como quero dar um fim nisto!
Para piorar, algo me diz que aquele não foi meu primeiro tombo e que minha mala poderá ficar menor ainda. Meu Deus, o que faço? O que faço comigo?
Bom, na falta de alternativas, tenho que trabalhar com o que tenho e o que possuo é ela: a mala. Então vou para um canto, me sento e tomo a decisão de com ela me entender. Naquele canto faço meu recanto... E vou olhar para mim. Abro minha pequena mala e vejo algumas coisas organizadas com aprumo e outras nem tanto. Algumas nem ligo, mas algumas são de chamar a atenção; elas não expressam o que sou. Puxa, tem algumas coisas nesta mala que até desconheço. Identifico nela um pouco da minha história, dos valores, lembranças, sentimentos, mas também muito do que não sei sobre mim: egão x eguinho, de novo.
O tempo passa... até porque me esqueci dele tentando me achar em mim mesmo. A impressão que tive foi a de que me atirei num infinito de questionamentos e novas percepções.
Vendo minha pequena mala com tão poucas coisas percebi que tinha uma única alternativa: fazer o movimento contrário,olhar para fora de minha mala. Então a fechei com zelo, segurei-a em meus braços e me levantei. Saí do meu canto e comecei a caminhar.
Que fantástico! Tudo parece diferente! Olha só quantas pessoas com malinhas pequenas caminhando, buscando alguma coisa! Não estou só! Choro. E choro mais um pouco. Meus passos têm outro sentido, outro movimento. Penso: vem vida, estou aqui! Animo-me e caminho mais rápido em direção a todas as possibilidades de viver.
Mas, na caminhada que ora inicio vejo que alguns não saíram de seus recantos. Perderam-se em si e com suas coisas ficaram aturdidos, quase cegos. Choro.
Outros caminham como eu... Outros ainda nem percebi e outros sei que estão por aí.
Olhando para trás consigo-me ver saindo para a vida com aquela mala grande, me sentindo grande. Hoje me vejo com esta pequena mala, mas me sentindo comigo. Então, egão e eguinho não são mais uma disputa porque no lugar deles está parte do meu eu, o ego. Aquela parte necessária, estrutural para o ponto de partida, para nos tornarmos mais do que somos hoje.
Nessa história toda procurava fervorosamente por um fim... E encontrei um fim para um início.
O fim não existe.

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